domingo, 30 de maio de 2010

Clarice,

Trago hoje uma passagem do livro de Clarice Lispector, chamado Água Viva. Um livro bastante metafórico e subjetivo onde a autora tenta  viajar pelos mistérios de si própria. Dedico, portanto,  todos aqueles que assim como eu amam CLARICE LISPECTOR
Eu te digo: estou tentando captar a quarta dimensão do instante já que de tão fugidio não é mais porque agora tornou-se um novo instante já que também não é mais. Cada coisa tem um instante em que ela é. Quero apossar-me do é da coisa. Esses instantes que decorrem no ar que respiro: em fogos de artifício eles espocam mudos no espaço. Quero possuir os átomos do tempo. E quero capturar o presente que pela sua própria natureza me é interdito: o presente me foge, a atualidade me escapa, a atualidade sou eu sempre no já. Só no ato do amor - pela límpida abstração de estrela do que se sente, capta-se a incógnita do instante que é duramente cristalina e vibrante no ar e a vida é esse instante incontável, maior que o acontecimento em si: no amor o instante de impessoal jóia refulge no ar, glória estranha de corpo, matéria sensibilizada pelo arrepio dos instantes - e o que se sente é ao mesmo tempo que imaterial tão objetivo a que não se diga uma aleluia.
Clarice Lispector, in Água viva

Um comentário:

  1. Olá.
    Obrigado pela visita e comentário. Seu blog é inteligente, e adorei. VOu segui-lo!

    http://advcleberafonso.blogspot.com

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