quinta-feira, 17 de junho de 2010

Pra não dizer que não falei de Clarice

Pode parecer clichê mas Clarice me lê, é incrível como sua literatura é tão exata, tão perfeita. Uma verdadeira artesã de palavras. Ela não só firmou sua escrita com vários prêmios   mas principalmente com uma legião de fãs, que idolatram não só a ela, mas principalmente suas personagens, sempre tão simples, tão monótonos, tão metódicos superficialmente que ambas guardam nossos maiores medos, angústias e segredos. 
Clarice escreveu o povo, uma estratégia pensada ou não pensada mas que desmascarou toda as imperfeições humanas, todas as inquietudes presentes na superficial ameaça da vida perfeita. E é a partir dessa (im)perfeição que seu texto é desenvolvido. Sua édige se construiu a partir dessa linha de raciocínio, desvendar os mistérios que atormentam a todos nós. Seus personagens antológicos são os mais simples possíveis, "pessoas" que vivem como a gente, com problemas diários, vivendo  seus secretos conflitos domésticos. E isso, diariamente vivenciamos, ao ler Clarice, identifico-me literalmente, vai daí todo o seu sucesso, em escrever nós mesmos, em própria se descrever, toda sua obra é uma auto-biografia, da dona de casa, da mãe-sempre-amável,  da brasileira nordestina, da gringa ucraniana, da advogada jornalista, ela se permitia estar em sintonia consigo própria e o resultado era uma literatura paradoxal, um texto simples tão claro, que chega a nos cegar. Personagens simples, sobretudo que ultrapassam os limites do papel e invadem nosso psicológico.
Quem está a procura de livros com feitos maravilhosos, com mocinhas que são lindas, com vilões que sempre morrem no final e com aquele feliz pra sempre não está a procura de Clarice, sua obra ficcional estar em narrar a inocência de uma nordestina que vai ao Rio de Janeiro, em um conflito psicológico de uma mulher ao deparar-se com uma barata, em elucidar os devaneios de uma pintora, em narrar os feitos de uma festa de aniversário de uma mulher de oitenta e nove anos, e isso é obra clariciana, isso é que faz parte dela, e consequentemente de nós, isso nos identifica. Seus textos sempre tão metalinguisticos, são de um caráter tão simples quanto universal. 
Como não amar a sutil inocência de Macabéa,  como não se identificar com G.H., como não     como não pensar como Rodrigo S.M. ?
E ainda tem gente que não respeita sua literatura... meros tolos.

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